sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Bullying, um problema que merece tradução.

Para ser discutido/ trabalhado com alunos do 6º ano ao  ensino médio.

Objetivos
Debater com os alunos sobre comportamento agressivo físico e moral.

Introdução
Todo dia, em praticamente todas as escolas do mundo, muitos alunos sofrem algum tipo de agressão física ou moral por serem gordinhos, usarem óculos com lentes grossas ou simplesmente porque dedicam algumas horas a mais que os outros aos estudos. Segundo uma pesquisa realizada no Rio de Janeiro pela Abrapia, uma associação voltada para a infância e a adolescência, 40% dos entrevistados padecem com o bullying. Esse fenômeno, que começou a ser observado nos anos 1970, ainda não tem tradução para o nosso idioma, mas compreende todas as formas de atitudes agressivas, intencionais e repetidas, que ocorrem sem motivação evidente. Num dos conjuntos de notas que compõem a seção Guia, VEJA lista uma série de sintomas diagnosticados por especialistas em vítimas do bullying. A reportagem também conta como algumas personalidades reagiam ao ser importunadas na juventude e anuncia a chegada da agressão ao mundo cibernético. De leitura obrigatória, os pequenos textos podem se transformar no fio condutor de uma reflexão sincera sobre como essa prática prejudica o desenvolvimento psíquico de crianças e adolescentes, derruba a auto-estima dos adultos e pode até levar ao suicídio.

Providencie cópias do quadro abaixo e distribua para a turma. Se possível, acesse com os jovens o site indicado no final deste plano e explore o Programa de Redução do Comportamento Agressivo entre os Estudantes, desenvolvido pela Abrapia, e os resultados das pesquisas feitas sobre o tema em escolas do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro.

Organize os alunos num círculo e oriente a leitura das notas de VEJA. Pergunte quem já foi alvo de implicâncias e perseguições de colegas na escola. Houve algum tipo de agressão física ou as ações se deram mais no campo moral, com a escolha de apelidos politicamente incorretos? Os jovens percebiam risadinhas, empurrões, fofocas ou a propagação de termos pejorativos como bola, rolha de poço, baleia, nerd, quatro-olhos etc.? Quem já recebeu mensagens difamatórias ou ameaçadoras no celular, no Orkut ou nos blogs pessoais? Provavelmente muitos dirão que já testemunharam "brincadeirinhas" do gênero, mas dificilmente admitirão que já as promoveram.

Para debater
Chame a atenção dos jovens para o fato de que o bullying, às vezes considerado normal por alguns pais e até por professores, está longe de ser inocente. Apesar de configurar prática comum entre crianças e adolescentes de países diferentes e fazer parte do cotidiano escolar em todas as épocas, deve ser constantemente evitado e combatido. Ressalte que uma das maiores preocupações dos estudiosos do assunto são os efeitos psicológicos que as agressões podem produzir nas vítimas. Leia com a classe o quadro abaixo e discuta o significado etimológico da expressão bullying. Então, peça que todos pensem numa possível tradução da palavra para o nosso idioma.

Destaque os sinais listados por VEJA em relação aos alvos da “brincadeira sem graça”. Lembre que daí podem advir problemas como depressão, angústia, baixa auto-estima, estresse, isolamento, fobias, evasão escolar, atitudes de autoflagelação e até suicídio. Os estudos produzidos pela Abrapia, inspirados nas pesquisas norueguesas dos anos 1970, por seu turno, mostram que as vítimas do bullying podem, no futuro, reproduzir a prática com outras pessoas – como os personagens da capa deste Guia e da ilustração.

Atividades
Proponha que os alunos colham depoimentos – se possível com auxílio de um gravador – de pais, tios, avós e outras pessoas de diferentes faixas etárias sobre as dificuldades de relacionamento que experimentaram durante o tempo de escola. Quais eram os apelidos mais comuns naquela época? Alguém foi às “vias de fato” com os colegas que criavam e apontavam defeitos nos outros? Certamente a garotada vai identificar casos diversos de pessoas que sofreram intimidações e agressões no passado. É importante que os depoentes contem de forma franca o que viveram e expliquem como superaram suas dores, a exemplo das personalidades ouvidas por VEJA no quadro “Eles Eram Alvo de Implicância”. Na semana seguinte, os jovens devem reunir o material obtido. O conjunto de narrativas dará a cada um a oportunidade de se identificar com os entrevistados e também de se colocar no lugar de quem é perseguido, achacado, discriminado, humilhado e ridicularizado ainda hoje. Depois peça que, divididos em pequenos grupos, os adolescentes aprofundem a questão e elaborem uma lista de ações para evitar o bullying na escola. As sugestões de cada equipe serão organizadas e apresentadas por meio de um grande painel para todo o colégio. Por fim, oriente a execução de textos dissertativos individuais sobre o fenômeno. Com a ajuda do professor de Língua Portuguesa, as redações podem ser avaliadas conforme a qualidade da argumentação e o nível de informação.
Por que um nome em inglês?

O termo bullying tem origem na palavra inglesa bully, que significa valentão, brigão. Como verbo, quer dizer ameaçar, amedrontar, tiranizar, oprimir, intimidar, maltratar. O primeiro a relacionar a palavra ao fenômeno foi Dan Olweus, professor da Universidade da Noruega. Ao pesquisar as tendências suicidas entre adolescentes, Olweus descobriu que a maioria desses jovens tinha sofrido algum tipo de ameaça e que, portanto, bullying era um mal a combater. Ainda não existe termo equivalente em português, mas alguns psicólogos e estudiosos do assunto o denominam “violência moral”, “vitimização” ou “maus tratos entre pares”, uma vez que se trata de um fenômeno de grupo em que a agressão acontece entre iguais – no caso, estudantes. Como é um assunto examinado criteriosamente há pouco tempo, cada país ainda precisa encontrar um vocábulo ou uma expressão, em sua própria língua, que tenha esse significado tão amplo.
Teresa Cristina Rego
Professora de Psicologia da Educação da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo